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Juiz solta 13 policiais alegadamente envolvidos no massacre de Pau D’Arco

Status: 
Pessoas defensoras assassinadas
Sobre o caso

Em 08 de agosto de 2017, um juiz substituto soltou 13 policiais que estavam em prisão temporária em razão de sua alegada participação no massacre de dez pessoas defensoras do direito à terra associados à Liga de Campesinos Pobres – LCP, ocorrido em Pau D’Arco, Pará, Brasil.

Sobre Liga de Campesinos Pobres

Liga de Campesinos PobresA Liga de Campesinos Pobres é um movimento de campesinos, trabalhadores rurais e pessoas defensoras de direitos humanos que trabalha para proteger o direito à terra de suas comunidades. Um problema recorrente no Brasil é a ocupação de terras por grileiros, termo que se refere a indivíduos que se apossam de áreas usando documentos de validade duvidosa. Nesse contexto, várias pessoas defensoras de direitos humanos têm sido assassinadas.

11 Julho 2017
Assassinato do defensor de direitos humanos Rosenildo Pereira de Almeida em meio a onda de repressão contra pessoas defensoras do direito à terra

Em 7 de julho de 2017, o defensor de direitos humanos Rosenildo Pereira de Almeida foi assassinado por agressores não identificados em Rio Maria, Pará, Brasil. Seu assassinato ocorreu aproximadamente um mês após o massacre de dez pessoas defensoras do direito à terra em 24 de maio de 2017 pela polícia.

Download the Urgent Appeal (PDF)

Em 7 de julho de 2017, Rosenildo Pereira de Almeida fugiu do assentamento Santa Lúcia quando percebeu que estava sendo vigiado por indivíduos não identificados. O defensor de direitos humanos buscou refúgio em Rio Maria, a 60km de distância. No mesmo dia, no período da noite, dois agressores não identificados, em uma motocicleta, atiraram e mataram Rosenildo Pereira de Almeida, enquanto ele estava saindo de uma igreja em Rio Maria, Pará, Brasil.

Na manhã de 24 de maio de 2017, um grupo de 25 trabalhadores sem-terra decidiu reocupar a fazenda Santa Lúcia, localizada no município de Pau D'Arco, no sul do Pará. Um grande número de outros trabalhadores rurais pretendia se juntar aos demais, porém o veículo contratado por eles para o transporte quebrou e eles não puderam alcançar o local a tempo. O grupo de 25 trabalhadores decidiu estabelecer um acampamento temporário na mata, a 300 metros de distância da sede da fazenda. Por volta de 6:30am., na mesma manhã, quatro veículos policiais chegaram ao local e os trabalhadores sem-terra resolveram fugir para a mata densa próxima. Os policiais perseguiram o grupo na mata e os localizaram. De acordo com os sobreviventes, a polícia disparou contra o grupo desarmado enquanto eles se refugiavam da densa chuva em uma tenda improvisada. Diante disso, as pessoas defensoras do direito à terra Antônio Pereira Milhomem, Bruno Henrique Pereira Gomes, Hecules Santos de Oliveira, Jane Julia de Oliveira, Nelson Souza Milhomem, Ozeir Rodrigues da Silva, Regivaldo Pereira da Silva, Ronaldo Pereira de Souza, Weldson Pereira da Silva e Weclebson Pereira Milhomem foram assassinadas pela polícia.

Desde o massacre de Pau D'Arco, a Polícia Federal foi designada para investigar o caso. De acordo com o Ministério Público, que também investiga os assassinatos, trata-se de execução premeditada. Em 10 de julho de 2017, 11 policiais militares e dois policiais civis foram presos temporariamente a pedido do Ministério Público, a fim de assegurar as investigações e evitar interferência e ameaças a testemunhas.

Diversas pessoas defensoras de direitos humanos e organizações no Brasil temem que a falha das autoridades em identificar os autores e levá-los à justiça possa ameaçar a segurança de outros assentamentos e ocupações, especialmente no Pará. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra – CPT, o assentamento Frei Henri no Pará, também conhecido como Fazedinha, o qual abriga mais de 200 famílias às margens da rodovia PA 273, é um dos mais vulneráveis. Desde 2010, as famílias lutam para que a terra seja incluída na reforma agrária. Apesar de diversas vitórias judiciais, as autoridades têm falhado em cumprir as decisões da Justiça e garantir a segurança das famílias, as quais são frequentemente ameaçadas e atacadas por fazendeiros da região.

A violência contra pessoas defensoras de direitos humanos no Brasil aumentou em pararelo à atual crise econômica e política no país. A situação traz particular preocupação uma vez que um dos primeiros atos do governo interino foi extinguir o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Em 2017, após pressão de diferentes setores, o governo criou o Ministério dos Direitos Humanos, com um mandato mais restrito. Além disso, o governo também extinguiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Ouvidoria Agrária. Ademais, políticos de alto perfil no país têm feito diversas declarações negativas contra movimentos e organizações da sociedade civil, sugerindo que suas ações tem natureza criminosa. O Ministro da Justiça declarou em discursos que o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - MST usou "táticas de guerrilha" durante os últimos protestos.

De acordo com a CPT, em 2016 foram registrados 1079 incidentes relacionados a conflitos agrários no país, um aumento vertiginoso comparado aos 771 casos registrados em 2015. No Pará, entre 1995 e 2010 registraram-se 408 incidentes e 61 pessoas assassinadas, aproximadamente 35% dos casos de todo o país. A CPT também registrou que na microrregião que engloba Pau D'Arco e arredores, de 1990 a 2017 foram reportados 72 assassinatos de pessoas defensoras do direito à terra em 39 incidentes. 

O Comitê Brasileiro de Defensores e Defensoras de Direitos Humanos reportou 66 assassinatos de pessoas defensoras de direitos humanos em 2016. 32 mortes ocorreram no norte do país, a mesma região onde se localiza o Pará. A maioria ocorreu em razão de conflitos agrários. Até a presente data nesse ano, o Comitê reportou 43 assassinatos de pessoas defensoras de direitos humanos.

A Front Line Defenders condena o assassinato do defensor de direitos humanos Rosenildo Pereira de Almeira e acredita que o ato foi perpetrado somente em razão de sua defesa por direitos à terra no Brasil. A Front Line Defenders ainda expressa profunda preocupação em relação aos reiterados relatórios que apontam números crescentes de assassinatos de pessoas defensoras de direitos humanos no país.

A Front Line Defenders urge as autoridades no Brasil a:

1. Condenarem publicamente o assassinato de Rosenildo Pereira de Almeida e assegurarem que a investigação em curso relativa a seu assassinato seja completa e imparcial, com o objetivo de levar os responsáveis à justiça de acordo com as normas internacionais;

2. Tomarem todas as medidas necessárias para garantir a integridade física e psicológica e a segurança dos demais membros do assentamento Santa Lúcia, bem como dos membros do assentamento Fazendinha e outras ocupações pacíficas do país;

3. Assegurarem que a investigação em curso sobre os assassinatos das pessoas defensoras de direitos à terra Antônio Pereira Milhomem, Bruno Henrique Pereira Gomes, Hecules Santos de Oliveira, Jane Julia de Oliveira, Nelson Souza Milhomem, Ozeir Rodrigues da Silva, Regivaldo Pereira da Silva, Ronaldo Pereira de Souza, Weldson Pereira da Silva e Weclebson Pereira Milhomem sejam completas e imparciais com o objetivo de levar os responsáveis à justiça de acordo com as normas internacionais;

4. Tomarem medidas para garantir que funcionários do governo ou outras figuras públicas se abstenham de fazer declarações estigmatizando o legítimo trabalho das pessoas defensoras de direitos humanos no país;

5. Garantir em todas as circunstâncias que todas as pessoas defensoras de direitos humanos no Brasil possam realizar suas legítimas atividades de direitos humanos sem medo de represálias e livres de todas as restrições.

24 Maio 2017
10 integrantes da Liga de Campesinos Pobres assassinados/as

A Liga de Campesinos Pobres (LCP) em Pau d'Arco (Pará) é um movimento de campesinos, trabalhadores rurais e pessoas defensoras de direitos humanos que trabalha para proteger o direito à terra de suas comunidades. Várias terras na região são ocupadas por grileiros, termo que se refere a indivíduos que se apossam de áreas usando de validade duvidosa. Esse é um problema recorrente no Brasil e é a raiz de muitos conflitos nos quais pessoas defensoras de direitos humanos são assassinadas por protegerem os direitos de suas comunidades. Estima-se que, no Brasil, 64% da terra seja de propriedade ou ocupada por 8% da população.

Em 24 de maio de 2017, dez membros da LCP (Jane Julia Oliveira, Weldson Pereira da Silva; Nelson Souza Milhomem; Weclebson Pereira Milhomem; Ozeir Rodrigues da Silva; Jane Julia de Oliveira; Regivaldo Pereira da Silva; Ronaldo Pereira de Souza; Bruno Henrique Pereira Gomes; Antonio Pereira Milhomem; Hércules Santos de Oliveira) foram mortos por disparos de arma de fogo no município de Pau D’Arco. O massacre ocorreu no ataque da polícia ao assentamento dos campesinos nos limites da fazenda Santa Lúcia, parte da terra reclamada por eles. A polícia afirma que as mortes em Pau D’Arco ocorreram durante confronto armado, mas não há evidências de violência armada por parte dos membros da LCP. De acordo com informações da mídia local, a polícia conseguiu se aproximar do local sem ser notada e abriu fogo contra os membros da LCP. Diversas pessoas que haviam fugido do local foram perseguidas pela polícia, capturadas e mortas.

11 Agosto 2017
Juiz solta 13 policiais alegadamente envolvidos no massacre de Pau D’Arco

Em 08 de agosto de 2017, um juiz substituto soltou 13 policiais que estavam em prisão temporária em razão de sua alegada participação no massacre de dez pessoas defensoras do direito à terra associados à Liga de Campesinos Pobres – LCP, ocorrido em Pau D’Arco, Pará, Brasil.

Download the Urgent Appeal (PDF)

Em 8 de agosto de 2017, um juiz substituto revogou a prisão temporária de 30 dias de 11 policiais militares e dois policiais civis que alegadamente estavam envolvidos no massacre de 10 pessoas defensoras do direito à terra ocorrido em Pau D'Arco. De acordo com o Ministério Público, as execuções foram premeditadas. Os 11 policiais militares e dois policiais civis foram presos por 30 dias em 10 de julho de 2017 a pedido do Ministério Público, a fim de salvaguardar as investigações e evitar interferências e ameaças a testemunhas. De acordo com o Ministério Público, há evidências de que os policiais detidos haviam tentado ativamente impedir a investigação ameaçando outros policiais que estavam presentes, mas não participaram do massacre. Esses policiais também estavam monitorando pessoas que entravam na sede da Polícia Federal em Redenção, onde as investigações estão ocorrendo. A decisão de revogar a prisão temporária deixou em choque sobreviventes do massacre, promotores envolvidos e outras pessoas defensoras do direito à terra na região, os quais esperavam que as prisões fossem prorrogadas por mais 30 dias.

Na manhã de 24 de maio de 2017, um grupo de 25 trabalhadores sem-terra decidiu reocupar a fazenda Santa Lúcia, localizada no município de Pau D’Arco, no sul do Pará. Um grande número de outros trabalhadores rurais pretendia se juntar aos demais, porém não puderam alcançar o local a tempo. O grupo de 25 trabalhadores decidiu estabelecer um acampamento temporário na mata, a 300 metros de distância da sede da fazenda. Por volta de 6:30am., na mesma manhã, quatro veículos policiais chegaram ao local e os/as trabalhadores/as sem-terra resolveram fugir para a mata densa próxima. Os policiais perseguiram o grupo na mata e os localizaram. De acordo com os/as sobreviventes, a polícia disparou contra o grupo desarmado enquanto eles/as se refugiavam da densa chuva em uma tenda improvisada. Diante disso, as pessoas defensoras do direito à terra Antônio Pereira Milhomem, Bruno Henrique Pereira Gomes, Hecules Santos de Oliveira, Jane Julia de Oliveira, Nelson Souza Milhomem, Ozeir Rodrigues da Silva, Regivaldo Pereira da Silva, Ronaldo Pereira de Souza, Weldson Pereira da Silva e Weclebson Pereira Milhomem foram assassinadas pela polícia.

Diversas pessoas defensoras de direitos humanos e organizações no Brasil temem que a falha das autoridades em proteger as testemunhas e em assegurar que as investigações do caso sejam completas e imparciais põe em risco não somente os envolvidos no massacre de Pau D’Arco de 24 de maio, mas também ameaça a segurança de outras pessoas defensoras do direito à terra, especialmente no Pará. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra – CPT, o assentamento Frei Henri no Pará, também conhecido como Fazedinha, o qual abriga mais de 200 famílias às margens da rodovia PA 273, é um dos mais vulneráveis. Desde 2010, as famílias lutam para que a terra seja incluída na reforma agrária. Apesar de diversas vitórias judiciais, as autoridades têm falhado em cumprir as decisões da Justiça e garantir a segurança das famílias, as quais são frequentemente ameaçadas e atacadas por fazendeiros da região.

A violência contra pessoas defensoras de direitos humanos no Brasil aumentou em pararelo à atual crise econômica e política no país. A situação traz particular preocupação uma vez que um dos primeiros atos do governo interino foi extinguir o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Em 2017, após pressão de diferentes setores, o governo criou o Ministério dos Direitos Humanos, com um mandato mais restrito. Além disso, o governo também extinguiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Ouvidoria Agrária. Ademais, políticos de alto perfil no país têm feito diversas declarações negativas contra movimentos e organizações da sociedade civil, sugerindo que suas ações tem natureza criminosa. O Ministro da Justiça declarou em discursos que o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - MST usou “táticas de guerrilha” durante os últimos protestos.

De acordo com a CPT, em 2016 foram registrados 1079 incidentes relacionados a conflitos agrários no país, um aumento vertiginoso comparado aos 771 casos registrados em 2015. No Pará, entre 1995 e 2010 registraram-se 408 incidentes e 61 pessoas assassinadas, aproximadamente 35% dos casos de todo o país. A CPT também registrou que na microrregião que engloba Pau D’Arco e arredores, de 1990 a 2017 foram reportados 72 assassinatos de pessoas defensoras do direito à terra em 39 incidentes. 

O Comitê Brasileiro de Defensores e Defensoras de Direitos Humanos reportou 66 assassinatos de pessoas defensoras de direitos humanos em 2016. 32 mortes ocorreram no norte do país, a mesma região onde se localiza o Pará. A maioria ocorreu em razão de conflitos agrários. Até a presente data nesse ano, o Comitê reportou 43 assassinatos de pessoas defensoras de direitos humanos.

A Front Line Defenders mostra grande preocupação em face da decisão das autoridades judiciárias de soltar 13 policiais alegadamente envolvidos no massacre de Pau D’Arco, em face das evidências disponíveis, uma vez que acredita isso pode trazer riscos aos sobreviventes e testemunhas e comprometer a investigação. A Front Line Defenders insta as autoridades do Brasil a tomar todas as medidas necessárias para garantir a integridade física e psicológica das pessoas defensoras do direito à terra envolvidas no caso, bem como suas famílias.

A Front Line Defenders insta as autoridades do Brasil a:

1. Tomarem todas as medidas necessárias para garantir a integridade física e psicológica e a segurança das pessoas sobreviventes do massacre de Pau D’Arco, bem como suas famílias e outras pessoas defensoras do direito à terra no país;

2. Assegurarem que a investigação em curso sobre os assassinatos das pessoas defensoras de direitos à terra Antônio Pereira Milhomem, Bruno Henrique Pereira Gomes, Hecules Santos de Oliveira, Jane Julia de Oliveira, Nelson Souza Milhomem, Ozeir Rodrigues da Silva, Regivaldo Pereira da Silva, Ronaldo Pereira de Souza, Weldson Pereira da Silva e Weclebson Pereira Milhomem sejam completas e imparciais com o objetivo de levar os responsáveis à justiça de acordo com as normas internacionais;

3. Tomarem medidas para garantir que funcionários do governo ou outras figuras públicas se abstenham de fazer declarações estigmatizando o legítimo trabalho das pessoas defensoras de direitos humanos no país;

4. Garantir em todas as circunstâncias que todas as pessoas defensoras de direitos humanos no Brasil possam realizar suas legítimas atividades de direitos humanos sem medo de represálias e livres de todas as restrições.