Back to top
21 Fevereiro 2020

Front Line Defenders condena violência policial contra Raull Santiago e outros integrantes do Coletivo Papo Reto

No final da tarde de 19 de fevereiro de 2020, Raull Santiago e seus colegas do Coletivo Papo Reto foram violentamente detidos e ameaçados por policiais da Tropa de Choque ao retornarem de reuniões na Favela da Maré, no Rio de Janeiro. Os agentes pararam uma das três motos que transportavam Raull Santiago e seus colegas, enquanto apontavam fuzis para eles. As pessoas nas outras duas motos ouviram dos policiais: "mete o pé e nem olha para trás". Aqueles que receberam ordem de permanecer foram então obrigados a sentar-se e entregar seus telefones.

Antes do seu telefone ser confiscado, Raull Santiago filmou o comportamento violento da polícia e transmitiu-o ao vivo no Twitter por cerca de cinco minutos. Um dos policiais notou que ele estava gravando e disse a Raull Santiago para se identificar e parar de filmar, apontando sua arma para ele. Depois que Raull Santiago se identificou como defensor de direitos humanos, o policial começou a abusar verbal e fisicamente dele, ameaçando de levá-lo a uma delegacia por "desobediência e resistência". Raull Santiago e seus colegas foram então levados para a 21ª Delegacia de Polícia, onde se reuniram posteriormente seus advogados, amigos, colegas, mídia e outros aliados. Os defensores fizeram uma declaração à polícia sobre o que tinha acontecido, e deixaram a delegacia.

Raull Santiago é um defensor de direitos humanos do Rio de Janeiro, reconhecido nacional e internacionalmente. Ele é o co-fundador do Coletivo Papo Reto e do Movimentos, dois grupos de direitos humanos que expõem os impactos da chamada guerra às drogas sobre a juventude negra, além de denunciar e dar visibilidade a casos de violência policial e violações de direitos humanos contra residentes de favelas.

O que Raull Santiago e seus colegas vivenciaram é um exemplo da abordagem seletiva e brutal que policiais estão usando cada vez mais em áreas marginalizadas ou favelas. É um sintoma do racismo estrutural, da criminalização e da opressão da juventude negra. Raull Santiago explica: "Não acredito que esse tipo de abordagem aconteceria em outra realidade, em outro endereço do Rio de Janeiro. Não é uma abordagem que a gente vai ver no Leblon, em Copacabana, em Ipanema. Mas você vai ver todos os dias no Complexo da Maré. Ele [o policial] disse: ‘pô, vocês estavam saindo da Maré, três motos’. Ou seja, para a sociedade jovem negro e favelado saindo de uma favela de moto, já é suspeito, já é criminoso”.

Defensoras e defensores de direitos humanos do Rio de Janeiro têm denunciado incansavelmente as violações resultantes de operações policiais. A brutalidade policial não é algo novo, porém, desde que o governo de Wilson Witzel tomou posse, houve um aumento no número de ameaças, intimidações e abusos físicos e psicológicos cometidos por policiais, incluindo a autorização de helicópteros para abater pessoas em favelas. Ao tomar posse, o governador declarou que a polícia deveria atirar para matar e "apontar para a cabeça" ao conduzir as operações. 2019 foi o pior ano de assassinatos policiais no Rio de Janeiro desde o início dos registros, em 1998, com 1.810 mortos, segundo o Instituto de Segurança Pública - ISP.

Front Line Defenders condena veementemente a violência policial usada contra Raull Santiago e outros integrantes do Coletivo Papo Reto, bem como a brutalidade policial dirigida contra a juventude negra no Rio de Janeiro. Front Line Defenders lembra às autoridades brasileiras que oficiais de segurança pública não devem intimidar ou exercer violência contra civis desarmados; e, quando isso ocorrer, as autoridades estaduais devem aplicar as sanções apropriadas e tomar medidas imediatas e imparciais para levar os responsáveis à justiça, de acordo com os padrões internacionais.