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27 Setembro 2018

Reflexões de uma defensora brasileira

Por Heloisa Helena Costa Berto

Contribuição da defensora afro-brasileira Heloisa Helena Costa Berto, em correspondência com a Front Line Defenders (publicado à pedido da defensora)

Estou trabalhando mais. E me sentindo mais segura. Com os relatórios que estou enviando para ONU é uma possibilidade dele ser citado na reunião em Genebra. Acho que é bom para os dois lados que meu nome retorne. Mas não quero grupo de Watsapp. Tenho muitos e fico sem tempo de responder. Só se tiver um específico com o meu tema.

Já recebi resposta sobre os relatórios. Foi um trabalho exaustivo, onde tive cerca de 20 colaboradores em varios momentos. Desde a tradução , revisão de texto e pesquisas de informações. No total foram 3 relatórios e um questionário, dando cerca de 400 páginas entre texto, anexos, notas e bibliografia. O relatório sobre abate animal, cujo julgamento está STF, tive a revisão e aval do advogado de defesa. Dr Hedio Silva Jr, muito ilustre. Tive a informação por e-mail de membro da a ONU que este é o primeiro documento desde tipo em 30 anos. O governo brasileiro será questionado sobre as violências, agressões e mortes por motivos religiosos. Será pedido providências, caso não se tenha o Brasil receberá um tom mais severo da ONU. O relatório será pauta na reunião da ONU em Genebra, Em 17/9 agora.

Preciso fazer um denúncia de como os órgão públicos tratam pessoas que pensem de forma social. Procurando direitos, não só os meus, mas para uma comunidade, defendendo e denunciando injustiças. Escrevi o texto abaixo para minha ex turma da pós graduação. Infelizmente não consegui concluir por problemas de saúde, financeiro( pois o benefício de um aposentado é pequeno) e não conseguir conciliar meus estudos com minha vida espiritual, em decorrência das dores)

Diante de todo o ano que passamos juntas, em que vcs viam meus esforços para estar aí com vcs nas aulas, e observaram quantas vezes eu faltei por estar com dor acamada e não conseguir seguir uma rotina que era quinzenal por saber que não consegui concluir minha pós graduação, por não conseguir executar tarefas variadas. Eu faço uma denúncia. Durante 7 dias estive aflita, pois o valor de minha aposentadoria não era depositado. Até que consegui falar( depois de muitos dias e horas no telefone) com INSS. Eles haviam suspendido minha aposentadoria ( falaram que enviaram carta, mas nunca recebi), pois eu precisava de nova perícia. Isso depois de estar 11 anos recebendo benefícios, sem condições de trabalho. Marcaram uma perícia relâmpago, sem me dar tempo de levar exames recentes e me comunicar com todos os meus médicos. Mesmo assim consegui um atestado, levei tomografias do início do ano que dizia que minha coluna estava condenada( palavras do médico). A médica me examinou, viu meus exames, contestou o fato de eu ter trocado de médico( troquei pos foi o último que me operou e sigo um tratamento com ele pelos aparelhos que coloquei no corpo.)para minha surpresa ela perguntou se eu era Luizinha de Nana, tinha minha ficha inteira dos movimentos dos quais luto e sou defensora de Direitos Humanos. Conclusão: ela me deu alta, disse que reconhecia que eu tinha a coluna com problemas graves, que eu sentia dores crônicas, mas que eu era intelectualmente muito ativa, portanto deveria voltar a trabalhar. Eu falei que os movimentos e escritos que faço são em casa em momentos diferentes. Que não conseguiria seguir uma rotina de 6 horas diárias de condução mais 8 sentada. Isso durante toda uma semana sem poder faltar. Ela falou que minha mente era muito ativa e que poderia ser usada para voltar ao trabalho. Falei que quando faço alguma palestra, as pessoas me buscam em casa de carro e me levam de volta (Eu nunca ganhei um centavo por qualquer palestra que tenha feito. Considero isso um movimento voluntário e social). Por isso concluo particularmente, o INSS quer seres não pensantes, que não expressem seus pensamentos, que não lutem mesmo dentro de casa com um notebook velho, que não se expressem contra o governo, que lutem para que pessoas tenha seus direitos reconhecidos, querem minha paralisia cerebral.

Do órgão que segundo os objetivos e valores nos defende. Estamos em época pré eleitoral. De acordo com as pesquisas e a situação política do país, em que a corrupção é expressiva e a militarização já é uma realidade no estado do RJ. Tenho muitos receios. Caso o Sr Balsonaro ganhe estarei na linha de frente em relação a todos as ideologias dele. Sou negra, mulher, candomblésista, defensora de Direitos Humanos e professo isso claramente. Caso o Sr Haddad ganhe estamos em perigo de uma intervenção ou golpe de Estado( não sou apenas eu que penso isso) o país poderá passar por momentos difíceis de autoritarismo, divisões e guerras internas. Nos dois cenários estarei na linha de frente. Pois existe um fator importante que defendo é já se encontra em guerra interna há algum tempo: o racismo pela cor e o racismo religioso.

Este problema é tão visível e profundo que levou a ONU a acolher meu relatório. É em decorrência a ONG Transparência Internacional colocar-me na campanha deles contra a corrupção. Como tbm eu ter minha aposentadoria retirada e a médica me chamar pelo meu nome religioso ou ter meu muro pixado.

Gostaria de ter de vcs uma resposta sobre atitudes a tomar e providências que possam ser realizadas. Sinto-me em perigo.